segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A doutrina da Graça e o ensino do Papai Noel

Apesar de estarmos relativamente longe do natal, quero pensar no que normalmente se ensina para as crianças sobre o Papai Noel e mostrar como nossa mentalidade nos leva a não aceitarmos a doutrina da graça.

Desde pequenos somos instados a rejeitar a graça em nossas vidas. Quando crianças ouvimos a famosa frase: "se não se comportar direitinho o Papai Noel não vai trazer aquele presente que você tanto quer". Ou se não passar de ano (ou ficar com média x) não vai ganhar a viagem pra Disney nas férias. Já pela adolescência ouvimos algo semelhante: "você precisa passar no vestibular/concurso público pra ganhar um carro quando fizer 18 anos". Na televisão sempre tem uma propaganda de um carrão (ou outro bem de luxo) com a frase "quem tem fez por merecer".

Inegavelmente incorporamos a mensagem que nos é passada "o que quer que eu deseje, tenho que fazer por merecer". Se após tudo isso ouvimos a mensagem do evangelho (a verdadeira, que diz que não fazemos por merecer de maneira alguma), necessariamente, vem a mente um pensamento "está faltando algo", ou seja, eu preciso fazer por merecer a salvação.

Com isso por toda a vida quando cometemos um pecado vem aquele pensamento de que o que eu acabei de fazer me fez perder a salvação, afinal de contas, nesse momento eu não fiz por merecer. Quantas vezes me pego tomando consciência de quão pecador eu sou e por isso Deus não pode me perdoar? Creio que não seja o único. Alguns instantes depois me vem o pensamento "eu nunca mereci ser tornado filho de Deus e nunca merecerei" somente então me dou conta de que não é por algo que fiz ou deixei de fazer que me tornei mais ou menos merecedor da graça de Deus. Como bem diz Efésios 2.8-9 "pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie".

Se minha salvação dependesse dos meus esforços, dos meus méritos, das minhas obras, no momento em que a ganhasse já a perderia (Salmo 14.3). O melhor exemplo de graça é aquele no qual uma criança se esforça para passar de ano, mas é reprovada. Triste, abatida e chorosa, porque seus esforços não foram o suficiente, imagina que não ganhará nada de presente de Natal, que o "Papai Noel" não vê nela méritos. Na noite de Natal a criança ganha o presente que ela tanto desejava, apesar de não merecer. Por que isso? Porque o "Papai Noel" viu nela méritos? Não, exatamente porque não viu méritos, mas por graça, e nada mais que isso, a contempla com algo que ela não consegue alcançar por seus esforços.

Quando aplicamos isso a vida real (não que a história de uma criança não seja), podemos enxergar o seguinte: Deus nos deu a lei para cumprir. Nossos esforços sempre nos deixam aquém (Gênesis 4, I Samuel 13.9-14, Êxodo 32). Assim, foi necessário que alguém pudesse cumprir a lei em nosso lugar e, assim, pagar o preço. Importante destacar que essa pessoa não poderia ter pecado (ou estaria em transgressão com a lei), bem como não poderia ser um ser finito (já que o pecado do homem é uma ofensa infinitamente grave contra Deus) e teria, necessariamente, que ser humano porque o ser humano tinha que pagar o preço. Isso nos leva a pessoa de Cristo que sendo 100% Deus e 100% homem, nasceu sem pecado e cumpriu a lei (Mateus 5.17).  O criador se fez carne e habitou entre nós (João 1.14).

A graça nos mostra que não somos responsáveis pela nossa própria salvação. Ela vem de graça (mas por um preço extremamente alto - o sangue de Cristo na cruz). Alguns dizem que já que Jesus cumpriu a lei não precisamos mais cumpri-la. Em parte, isso é verdade. Não dependemos mais do cumprimento da lei para sermos salvos, mas, se somos salvos, cumprimos a lei por amor a Cristo. O motivo do cumprimento da lei muda, não a necessidade de cumpri-la (Tiago 2.22). Um exemplo disso é o casamento. Ninguém, em sã consciência, casa e anda com uma lista de obrigações ou de proibições a serem cumpridas. A pessoa, por exemplo, não se envolve em um relacionamento extraconjugal porque ama a seu cônjuge e não porque faz parte do "contrato". Se for o caso de apenas "cumprir o contrato" com certeza, ela deixará de cumpri-lo quando tiver uma chance.

Se somos verdadeiramente salvos, nosso amor, nossa gratidão a Deus será tão grande que teremos prazer em agradá-lo, em cumprir seus mandamentos, não porque eu tenho que fazer por merecer, mas exatamente porque sei que não mereço e, ainda assim, sou agraciado com tão grande benção.

Por esses motivos temos que ter cuidado com o que ensinamos para as crianças pois, sem querer, desde pequenos aprendemos a rejeitar a doutrina da graça. Quanto a ensinar sobre o "Papai Noel" não me manifestarei neste momento. Por fim, deixo o ensinamento que nunca podemos esquecera graça é de graça e se não é de graça, posso dar qualquer outro nome que não seja graça.

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