segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Nova Reforma Protestante

Estamos prestes a completar 500 anos da reforma protestante, o que deve ser comemorado. Todavia, se olharmos para o chamado cenário protestante/evangélico vemos que não há tanto a ser comemorado. Tudo o que diversos homens de Deus batalharam para mudar, a fim de que nos voltássemos para as Escrituras, tem sido deixado de lado.
Muitos que se intitulam protestantes/evangélicos não leem a Bíblia que, hoje, está traduzida para a língua deles e muitos que a leem, não se preocupam com a interpretação. O argumento para tal é que a reforma trouxe a livre interpretação, desconhecendo, portanto, que o que se buscou na reforma foi o livre exame, ou seja, a possibilidade de pesquisar, estudar um texto sem estar restrito a interpretação dada por determinado líder/igreja, e não livre interpretação. Um segundo argumento, de outro grupo, é que fazer teologia é bobagem, esfria o crente, etc. Só que estes não sabem que em qualquer leitura que façam e procurem aprender com o texto, estão fazendo teologia, de modo informal, mas estão.
John MacArthur em seu livro "Como estudar a Bíblia"* diz que existem pessoas que leem a Bíblia e não a interpretam, pulando direto para a aplicação sem se importar em descobrir o que ela quer dizer. Uma leitura rasa, sem análise, nos levará a uma interpretação errônea por colocarmos nossas pressuposições no texto, levando-o a dizer o que nunca disse.
Outra bobagem que já ouvi dizerem é "não sou evangélico/protestante, sou cristão". Sim, o termo evangélico está demasiadamente desgastado no cenário nacional graças aos políticos que se dizem evangélicos/pastores e estão metidos em corrupção e/ou posições (teológicas, filosóficas, sociais, etc) contrárias aos ensinamentos bíblicos. Todavia, a fala de quem diz esta frase mostra o desconhecimento pleno do que foi a reforma protestante e sua relevância. O ser evangélico significa um retorno às Escrituras, deixar de lado toda e qualquer autoridade humana e tê-la como fundamento último de fé. Significa, também, crer na salvação apenas pela fé, sendo as obras mera comprovação da salvação.
Aproveito para ressaltar que o legado da reforma não se limita apenas ao âmbito religioso. Literatura, arte e política foram muito influenciadas. Diversos direitos que hoje temos tem sua origem na reforma. Franklin Ferreira em seu Workshop na Conferência Fiel de Pastores e Líderes 2017** abordou estes assuntos.
Quantos são chamados para participarem de estudos bíblicos, de EBD (apesar de em algumas quase não ter conteúdo transmitido) para aprofundarem seu conhecimento, mas preferem ir à igreja apenas num culto de "louvorzão"; no culto em que o pastor x, que é muito engraçado, vai pregar; num culto em que o pastor y vai pregar pois ele nunca fala nada contra mim, apenas afaga meu ego e meu coração...
Ler a Bíblia e alegar que ela é nossa fonte de autoridade não basta, precisamos lê-la interpretando-a como um todo e não tirar um entendimento de um texto que contrarie outro, como muitos fazem. O Rev. Heber Campos abordou magistralmente este assunto em seu workshop na Conferência Fiel de Pastores e Líderes 2017***. Apenas em uma interpretação adequada, levando em consideração questões culturais, sociais, etc do texto, podemos enxergar a unidade do texto bíblico, de forma a percebermos sua inspiração divina.
Infelizmente a Bíblia tem sido deixada de lado há bastante tempo, não sendo coisa nova. Steven Lawson no livro "O Foco Evangélico de Charles Spurgeon" nos mostra que já no tempo de Spurgeon as igrejas trocavam devoção por entretenimento, púlpitos por palcos, evangelho por auto-ajuda. “Perto do final de seu ministério, Spurgeon viu igrejas recorrendo a meios carnais para atrair as multidões ao evangelismo. O púlpito foi substituído por um palco e o sermão por entretenimento. Com tal infiltração mundana, a verdade bíblica estava diluída e havia severa perda de poder na pregação evangelística. Sentindo urgência, Spurgeon declarou: "Por todo lado, existe apatia. Ninguém se importa se aquilo que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. Um sermão é um sermão, qualquer que seja o assunto - desde que, quanto mais curto, melhor". Mas Spurgeon recusou fazer concessões ou transigir. Permaneceu consumido por uma única paixão pela verdade bíblica.”****
Paul Washer em seu livreto "O Verdadeiro Evangelho" nos fala sobre o evangelho que tem sido pregado em muitas igrejas. Boas novas não tão boas, pois, segundo elas, não somos tão pecadores assim. Boas novas não tão boas, pois, segundo elas, nosso pecado não é uma ofensa infinita contra a santidade de Deus. Boas novas não tão boas, pois, segundo elas, Deus não está irado pelas ofensas cometidas contra si, mas é um pai bonachão que ri da criança que esbofeta seu rosto sem um pingo de autoridade para corrigi-la. Com tudo isso, as boas novas deles é que não precisamos de Deus, mas que podemos utilizá-lo como algo que está a nossa disposição para ser usado enquanto for proveitoso e depois descartá-lo.
Infelizmente muitas dessas coisa nos desanimam, entristecem e, até, nos deixam irados. Graças a Deus que tem levantado alguns grande pregadores que têm pregado a palavra de Deus, sem se preocupar se alguém sairá ofendido por ter sido chamado de pecador, desgraçado (desprovido de graça), miserável, etc.
A reforma protestante, em termos religiosos, basicamente, veio lembrar dos 5 solas: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria. Eles nos fazem relembrar que a única regra de fé é a Escritura (Sola Scriptura), que a salvação é somente pela graça de Deus e não pelas obras (Sola Gratia) e esta salvação vem pela fé (Sola Fide), apenas por meio de Cristo (Solus Christus) e que toda a glória deve ser dada apenas a Deus (Soli Deo Gloria).
Tendo em vista que tudo isto tem sido esquecido pelas igrejas, creio que precisamos de uma nova reforma, como afirma Renato Vargens em seu livro Reforma Agora. Precisamos de um retorno às Escrituras. Somente isto é capaz de fazer os palcos de "stand up comedy gospel" voltarem a ser púlpitos, as piadas e longas cantorias (com letras que não exaltam a Deus, mas ao homem) voltarem a ser pregação expositiva, que toque nas feridas e exponham as vergonhas dos ouvintes (e do pregador), transformando a euforia em lágrimas de pesar pelo pecado, as camisetas "sou cristão" e coisas do tipo voltarem a ser uma vida nitidamente transformada por Deus, de forma a pregar o evangelho com suas atitudes.
Que Deus tenha piedade de nós e nos abra os olhos, que levante um novo Lutero nesta geração caída que "se aproxima de Deus, e com a sua boca, e com os seus lábios o honra, mas o seu coração se afasta para longe dele e o seu temor para com ele consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído"(Isaías 29:13).


*        John MacArthur. Como Estudar a Bíblia. Editora Thomas Nelson.
** Workshop: O Impacto da Reforma nas Artes, Educação, Literatura e Política <https://www.youtube.com/watch?v=1JCa9H2cJak>
***    Workshop: Tota Scriptura e a perspicuidade da Bíblia
****  Steven Lawson. O Foco Evangélico de Charles Spurgeon. Editora Fiel.

Bibliografia recomendada:

- Franklin Ferreira. Pilares da fé. Editora Vida Nova.
- Kevin J. Vanhoozer. Autoridade bíblica pós-reforma. Editora Vida Nova.
- Michael Horton. Evangélicos, católicos e os obstáculos à unidade. Editora Vida Nova.
- Michael Reeves, Tim Chester. Por que a Reforma ainda é importante? Editora Fiel.
- Paul Washer. O Verdadeiro Evangelho. Editora Fiel.
- Renato Vargens. Reforma Agora: O antídoto para a confusão evangélica no Brasil. Editora Fiel.
- R. C. Sproul e Stephen Nichols. O legado de Lutero. Editora Fiel

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Igrejas prestes a esvaziarem

Muitos concordam que as portas das igrejas estão escancaradas, aceitando que qualquer pessoa faça parte de sua membresia sem que primeiro dê sinais evidentes de conversão. Com isso a ideia das pessoas é que o cristão não é alguém que se parece com Cristo (ou ao menos tem isto como alvo), mas que é apenas mais um religioso, cujas crenças o tornam (ou o faz se achar) melhor e mais especial do que os outros.

Todavia a cada dia os acontecimentos me levam a crer que isto pode mudar. Não me refiro apenas a cristãos que estão estudando as escrituras (o que ainda não ocorre em nível expressivo, apesar de mais do que há alguns anos), mas às perseguições que estão começando a ocorrer em todo o mundo. Apesar de alguns quererem esconder, os muçulmanos que estão imigrando para Europa, América do Norte e até para o Brasil (parece que estão começando a chegar com mais força agora) e, o desejo deles é islamizar todos os países, se necessário for por meio da Jihad. Por outro lado o politicamente correto (que vem acoplado ao socialismo e seus valores que vem crescendo em diversos países mesmo os tidos como capitalistas) vem tentando acabar com valores cristãos da sociedade e fazer os cristãos se calarem (especialmente em assuntos como condenação a homossexualidade, liberdade de crença e outros direitos). 

Hoje, soube que o Senado do Canadá aprovou uma lei proibindo que alguém se manifeste de forma contrária a identidade de gênero. Ou seja, o direito de expressão está sendo tirado, tudo sob a alegação de que seria uma manifestação de ódio, e a pena para isso vai de multa a prisão. Aproveito para perguntar, e o ódio para com os religiosos que não creem nisto, como fica? Impune! Alegar ser crime de ódio tal tipo de postura é manifestar ódio contra o que pensa diferente. 

Ressalto aqui que, se o cristão declara que as pessoas estão indo para o inferno e que devem mudar sua postura (tanto o homossexual, quanto o mentiroso, quanto o assassino, quanto o corrupto, etc), isto não é incitar o ódio contra o outro, muito pelo contrário é amar, desejar que o outro tenha um fim (após a morte) bom e não de sofrimento eterno. Poderíamos chamar de discurso de ódio (e, principalmente, anticristão) se fosse dito algo como "o homossexual deve ser assassinado" ou "o ladrão deve sofrer linchamento na hora em que for pego roubando". Uma frase que ouvi algumas vezes e gostei muito, é que pregar o evangelho é o equivalente a um mendigo dizendo ao outro onde encontrar pão. O mendigo vai dizer "você que também está passando fome (em pecado e precisa de salvação), venha ver onde estão dando pão de graça (a graça salvadora de Deus). Onde está o ódio em dizer que o outro também precisa daquilo que o salvará?

Com esses acontecimentos não podemos acreditar que as igrejas sérias (no mundo todo) não esvaziarão. Muitos dos que "gostam da mensagem" não permanecerão pois, apesar de estarem em igrejas sérias, eles não são cristãos sérios, comprometidos com o ensinamento bíblico e abrirão mão de estarem lá para não serem vítimas de atentados de extremistas islâmicos (recomendo a leitura do livro "Perseguidos" de Paul Marshall que conta sobre diversos países islâmicos ou não, que perseguem pessoas de religiões não oficiais ou principais, mas principalmente os cristãos), para não serem punidos por não apoiarem a identidade de gênero e outras condutas que "os tornam criminosos" com base na legislação que vem sendo aprovada.

Deus está no controle. Sim, apesar de tudo o que está acontecendo e acontecerá de ruim, Deus não perdeu o controle da história, seu trem não está saindo dos trilhos rumo ao precipício, mas acredito que Deus está usando estas coisas não só como forma de punir os cristãos que não têm vivido como tais, como para que as pessoas passem a ver a igreja como um local de pessoas que vivem o que dizem crer. Com a perseguição surgindo (de maneira mais branda ou não), a igreja inicialmente esvazia, os que são joio (Mateus 13) saem de perto do trigo para não serem confundidos e punidos e assim a igreja renasce, reaviva, fortifica. Somente os que realmente se converterem se unirão a igreja, os outros manterão distância. É como o curioso que não se junta a uma manifestação, mas a observa de longe para não ser confundido com alguém do grupo e ser punido.

Ao longo de toda história, a igreja foi perseguida. Será a última perseguição antes do fim? Não sei, mas tenho esperança de que, se houver uma real perseguição (como a que ocorre na Coréia do Norte e outros lugares mais) os cristãos estejam firmes na rocha para resistir e "causar". Que a conduta deles abale as estruturas e faça com que a glória de Deus seja vista, levando a conversão até dos perseguidores para que sejam novos "Paulos".

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Pastor, vá trabalhar!

Acho que todo mundo já viu postagens do tipo "a igreja deveria pegar os dízimos e dar todo para os pobres. E o pastor? Que vá trabalhar". Esse tipo de postagem simplesmente mostra a ignorância destas pessoas, pois não sabem a função principal dos dízimos e ofertas nem que a função do pastor é um trabalho (ainda que não profissão).

Essas pessoas não sabem para que o dízimo serve. Isso porque além de ser usado para pagar contas da igreja (sim, apesar de ser isenta de tributos a igreja paga contas como luz, empregados, etc) tem a função de garantir a proclamação do evangelho. Se a igreja é bem organizada financeiramente, ela terá que pagar um (ou mais) pastor(es), ministro de música, missionários (sustentados pela igreja) e ainda dará auxílio para seus membros necessitados (seja em cesta básica ou em dinheiro). 

Se a condição financeira da igreja for realmente boa, ai sim, ajudará pessoas de fora. Ao contrário do que muitos dizem, os membros são prioridade, Paulo nos instrui a este respeito: "então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé (Gálatas 6:10). Se quisermos demonstrar o amor cristão só o faremos corretamente se seguirmos esta ordem. Não há lógica deixar algum irmão em necessidade e ajudar algum "estranho" para demonstrar amor. Se o fizermos, com certeza ouviremos algo do tipo "como você diz que ama os outros se aquele que está mais próximo de você não é ajudado?". Seria como se tivéssemos um parente em dificuldades financeiras e preferíssemos colaborar com um não familiar.

Outro aspecto a ser considerado é que a finalidade primordial da igreja não é dar alimento material (de qualquer espécie), mas espiritual. Apenas se seguirmos a lógica da TMI ou outras, igualmente teologias estranhas, diremos que é mais importante dar o alimento material para depois alimentar espiritualmente. Se a pessoa morrer hoje, o que vale mais dar a ela um prato de comida ou Cristo? Qual das opções fará alguma diferença após a vida dela? Não estou dizendo que não devemos dar um prato de comida a uma pessoa, mas que a prioridade deve ser Cristo. Podemos oferecer ambos, claro. Por que não, de repente, oferecermos um prato de comida e, enquanto a pessoa come, lhe apresentamos aquele que pode saciar sua fome e sua sede pelo resto da eternidade?

E o pastor? Ele não tem que trabalhar? Para aqueles que pensam assim, digo que nunca devem sequer ter auxiliado nos trabalhos da igreja. Veem o pastor como uma espécie de empregado que deve estar sempre a disposição, telefone ligado 24 horas, reuniões 24 horas, aconselhamento 24 horas, etc. Claro, fora o tempo que deve trabalhar em um banco, escritório ou sei lá onde. Se essas pessoas auxiliassem nos trabalhos da igreja, veriam que aqueles que, mesmo sem função ou cargo, ajudam na igreja, estão com reuniões constantes (diretorias, conselhos fiscais, professores de EBD, etc), quase não dão conta com seus trabalhos seculares que tanto os sugam.

Agora, imagine um pastor tendo que trabalhar 30, 40 horas semanais em um local e ainda preparar pelo menos 3 sermões (2 de domingo e o tradicional culto de 4ª feira), fazer visita aos membros, separar tempo para aconselhamento no gabinete, estar nas reuniões da igreja que lhe competem (principalmente quando o pastor é o presidente da igreja - percebam, falei presidente não dono como em algumas), será que terá tempo para dormir? Não vou nem mencionar sua vida familiar, tempo para relaxar, etc.

Sim, eu sei que há pastores que trabalham em período parcial, mas geralmente estes não cumprem as tarefas que listei acima (3 ou mais sermões, visita, aconselhamento, etc). Eles são auxiliares ou até podem ser pastores principais, mas a igreja tende a ter 1 culto semanal, não há visitas, etc. Se houver tudo o que fora listado, há algo de errado. Ou ele fará um sermão raso, sem o devido preparo ou ele está fazendo estas coisas durante seu expediente de trabalho secular.

Trabalhei como seminarista em uma igreja com alguns amigos pastores e seminaristas. O tempo que tinha que separar para reuniões semanais (ou quase) e preparar sermões, me exigia bastante tempo. Sim, eu não recebia para isto. Mas hoje sei como é a rotina de um pastor (e olha que eramos 3 pastores e 3 seminaristas nesta igreja). Tínhamos tarefas divididas e ainda era puxado, imagino se fosse apenas uma pessoa para realizá-las.

Ainda que haja quem queira dizer que deveriam ser diversos pastores na igreja, para que ninguém fique sobrecarregado e todos sem remuneração pois foram chamados por Deus, devemos lembrar do que Jesus falou a seus discípulos "pois o trabalhador é digno do seu sustento" (Mateus 10:10). Ou seja, aqueles que Deus chama são sustentados por Ele, utilizando outros crentes.

Lembre-se, orar, preparar um sermão (um bom sermão leva em média 20 horas - como já disse Mark Dever e tantos outros), visitar, aconselhar, tudo isso é trabalho. Se somarmos apenas as horas com sermões já são 60, muito mais que um  trabalhador normal.

Sei que muitos vão dizer que são contra o pastor ser remunerado por causa desses "pastores", "apóstolos", falsos profetas que são milionários e vivem às custas dos fieis. Esses, sim, deveriam ir procurar uma profissão pois são apenas enganadores e não chamados por Deus para o ministério (talvez chamados por deus para o ministério do estelionato). 

Mas falando sério. Um pastor deve ser devidamente remunerado, ter o suficiente para seu sustento (e de sua família) e ter algum conforto (sim, algum - como Piper diz em um de seus vídeos conforto demais nos leva a estar sempre querendo mais). Diria que a remuneração do pastor deve ser suficiente para ter uma casa que não ostente para o crente mais pobre, nem deixe o cristão mais rico com pena de sua pobreza (palavras de Franklin Ferreira em uma de nossas conversas). 

Não entrarei no mérito quanto a valores, até porque a realidade de cada igreja é diferente, não são todas que podem oferecer, por exemplo, 10 mil reais a seu pastor (aproveito para lembrar que o pastor não é empregado da igreja, não recebendo dela o pagamento de FGTS, INSS, entre outras coisas - tendo de contribuir do próprio bolso).

Com isso, finalizo. Pastor, vá trabalhar na obra de Deus. Você, membro de igreja, vá sustentar seu pastor para que ele possa cumprir sua missão, aliás a missão de Deus.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A idolatria da ideologia

Quase todo mundo se manifestou nas redes sociais sobre a recente eleição dos Estados Unidos. Alguns sendo contra, outros a favor, mas muitos "cristãos" deixam de analisar posicionamentos de um ou outro candidato crendo que ele, sim, seria perfeito.

Muitos que cresceram comigo, hoje, me parece, ainda se dizem cristãos a despeito de terem abandonado a igreja e não mais levarem uma vida que indique que ainda creem na verdade bíblica e que foram, por ela, transformados. Eles têm se posicionado a favor de uma política de esquerda (e também de uma "teologia de esquerda"). Como bem disse Augustus Nicodemus em seu livro "O que estão fazendo com a igreja", todos os que aderem a uma teologia de esquerda (liberal, proveniente do marxismo cultural) se posicionam como esquerda política, não sendo a recíproca, necessariamente, verdadeira.

Como costumo dizer, não posso aceitar este posicionamento. Eles mitigam a verdade bíblica, reduzindo-a a moralismo, ensinos sócio-culturais, posturas anti-progressistas entre outras coisas mais. Por muito tempo me declarava apolítico. Hoje, não mais. Continuo e, creio, continuarei apartidário, mas hoje entendo que o posicionamento político de direita está mais próximo do que a Bíblia ensina. PRESTEM ATENÇÃO, não disse que a ideologia de direita é plenamente bíblica, mas que, me parece ser menos divergente com seus ensinos.

Aquele que adere a uma ideologia política, filosófica ou sociológica como verdade absoluta está indo de encontro com as Escrituras. Essa "verdade" será levada às últimas consequências e por isso essa pessoa não pode ser considerada verdadeiramente cristã. A única verdade que pode ser seguida plenamente é a ensinada pela Bíblia.

Aqueles que creem que o Estado é a solução de todos os problemas, que acham que a pobreza pode ser extinguida não conhecem as Escrituras. Jesus afirmou que "os pobres sempre os tendes convosco" (Jo 12.8). Crer que o Estado é capaz de resolver todos os problemas é confiar no homem ("Maldito o homem que confia no homem" - Jr. 17.5), crer que ele apesar de mau é capaz de fazer o bem (Rm. 3.12) tudo isso é condenado pela Bíblia. O que deve ser a meta, como afirma Wayne Grudem em seu livro "Política segundo a Bíblia", e Aaron Armstrong em "O Fim da pobreza" é buscar o fim da miséria, na qual a pessoa sequer tem o mínimo para se dizer que tem uma vida digna.

Para os esquerdistas, o Estado assumir a responsabilidade de prover o mínimo para todos é a solução, só que eles não se dão conta das implicações de suas afirmações. Um Estado inchado apenas serve para cobrar impostos de forma exorbitante, quase que confiscatória. Leandro Narloch no "Guia Politicamente Incorreto da Economia Brasileira" critica, sabiamente o Estado ser detentor de diversas atividades. Um exemplo que ele dá (e são muitos) são os museus que administrados pelo Estado apenas dão prejuízo, arcado pelo contribuinte. Se estes passassem para a esfera privada seriam melhores administrados (alguns deles estão, literalmente, caindo aos pedaços), diminuiriam os gastos (que poderiam ser repassados para educação, saúde ou até desonerado dos bolsos dos contribuintes), entre outros benefícios mais.

Outro aspecto levantado por Wayne Grudem em seu livro "Economia e política na cosmovisão cristã" é que os responsáveis por garantir o mínimo para os que nada tem estariam criando irresponsáveis. Uma coisa é ajudar uma pessoa a ser reerguer e andar com as próprias pernas, outra é permitir que as pessoas administrem irresponsavelmente seus recursos financeiros sabendo que os que foram responsáveis terão o ônus separar parte do que administrou para sustentá-los. E mais, Grudem nos mostra que, em uma visão socialista, o Estado está roubando os bens do particular e impedindo-o de gerir seus bens de forma sábia como a Bíblia ordena (Ex. 20.15 e Mt. 25.14-29).

No que pertine à eleição americana, um amigo, nas redes sociais, riu de afirmações de que a Hillary Clinton seria de esquerda e o Trump de direita. O problema é que a afirmação tem sentido. Ela apoia a legalização do casamento homossexual, aborto e outros temas. 

Christian Edward Cyril Lynch, advogado e cientista político em seu texto "Saquaremas e Luzias"(disponível na internet) nos mostra que em nosso país (o que não impede que seja verdade em outros) há duas esquerdas e duas direitas. Há a esquerda que tem como bandeira os direitos trabalhistas e assemelhados que levam ao inchamento do Estado, com valores mais conservadores no que se refere a casamento homossexual, drogas, etc. A outra esquerda tem o foco no casamento homossexual, drogas entre outros, apoiando temas socialistas voltados às responsabilidades dos Estado. Uma direita, além de defender o Estado mínimo e livre-comércio, tem valores mais conservadores quanto aos temas polêmicos. A outra direita é aquela que tem valores progressistas, apesar de apoiar o Estado mínimo.

Outro aspecto a ser levado em consideração é a parte mais polêmica dos progressistas. Como disse Yago Martins em um vídeo que roda na internet (Link aqui) há temas que estão sendo debatidos como se devessem ser regulados pelo Estado como se este fosse o regulador máximo de todos os assuntos. Vale lembrar que quando coisas do tipo acontecem, surge um Estado totalitário como a China que chega ao ponto de dizer quantos filhos se pode ter e outras coisas mais.

Como a Bíblia instrui o Estado é que serve ao povo e não o contrário. E ele somente tem sentido se servir para o que foi criado (Rm 13.4).

Os valores cristãos devem fazer parte do Estado. MAIS UMA VEZ PEÇO QUE PRESTEM ATENÇÃO, não disse que deve haver mistura entre Estado e Igreja, mas que os valores cristãos devem permear a esfera pública, já que sem eles o Estado tenderá (e já está tendendo) para a redução de direitos individuais (como direito de crença, que vem sendo tolhido em diversos lugares - esquecendo-se que a crença não se restringe apenas a esfera religiosa), desvalorização do esforço pessoal (se uma pessoa não é recompensada por se esforçar para conseguir algo vai adquirir por meios ilícitos), despenalização de crimes (da mesma forma que o salário do pecado é a morte Rm. 6.23, os crimes devem ser punidos).

Por todos esses motivos (e muitos outros mais) a "esquerda da fé" não está correta. Resta-nos apenas uma "fé direita".

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Dia da Reforma

Hoje, apesar de muitas pessoas, mesmo no Brasil, comemorarem o Halloween, outras se lembram de um fato importantíssimo para a história que ocorreu há 499 anos. O fato a que me refiro é a Reforma Protestante iniciada por Lutero com as 95 teses. Infelizmente por não termos tradição de guardar fatos históricos poucos se lembram da existência da data e do que ela significou na época. A Reforma, mais do que a "criação do protestantismo" foi uma manobra de retorno as Escrituras, deixando de lado dogmas impostos pela Igreja Católica.

Os fiéis compravam perdão de seus pecados, faziam romarias entre outras coisas mais em uma tentativa de salvarem-se ou salvar a seus familiares. Todavia a Reforma veio para colocar a fé em Cristo em seu devido lugar, o que é realmente capaz de salvar.

Os legados da reforma não se resumem apenas ao âmbito religioso. O Direito como conhecemos hoje, por exemplo, também foi grandemente influenciado pelo Cristianismo, mais especificamente, com a Reforma. Os direitos fundamentais têm origem em princípios cristãos. A Filosofia, Ciência Política e outras ciências também foram influenciadas pela reforma.

Infelizmente em nossos dias muitos dos ditos evangélicos (protestantes) abandonaram os legados da Reforma trazendo novamente rituais "necessários para a salvação", corrupção da igreja, perversão do evangelho entre outras coisas mais.

Em uma tentativa de "salvar o evangelho" será que precisaremos de uma nova reforma no século XXI? Se os cristãos não se voltarem para as Escrituras com seriedade, lembrando sempre do legado que recebemos em breve tudo o que teremos será mera sombra do que foi no início do Cristianismo e na época logo após a Reforma.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

How I Met Your Mother - Uma análise teológica - COM SPOILER

Muitos assistem ou assistiram a esta série e fizeram recomendações sobre ela. Ouvi que é engraçada, interessante, emocionante entre outras coisas. Agora, estou quase no final dela e acho que já posso fazer uma análise mais profunda, especialmente pelo fato de que mais para o final há acontecimentos que devem ser analisados.

A série por mais "bobinha" que seja está a ensinar e fazer-nos tolerar padrões muito longe dos ensinados pela Bíblia. Barney, o machão, não quer relacionamentos sérios, apenas uma noite de prazer com as mulheres que encontra pelo caminho. Sim, mais pro final ele começa a procurar relacionamentos duradouros, mas pelas contas que ele declara conheceu quase 300 mulheres (se eu não me perdi nos números ou se ele não aumenta nos próximos 30 episódios). Durante um tempo ele namora uma stripper e não só aceita a profissão dela, como sai contando pra todos cheio de orgulho. A quase futura esposa dele tem envolvimento com diversos homens e o noivo se agrada dessa situação. Ele, também, tem sonhos sexuais com a esposa de seu amigo, Marshall, sempre com a expectativa de torná-los realidade, sendo que todo o grupo sabe de seus desejos.

Ted, um típico nerd, apesar de não ser igual a Barney, namora diversas mulheres e mais, chega a ser o outro de pelo menos uma delas (não lembro se de mais de uma). Inclusive, ele é o motivo de um término de casamento, quando parece que vai casar com essa, descobre que ela era apenas mais uma que passou pela vida dele, sem a importância que achou que teria enquanto era casada.

Robin, se junta ao grupo após sua mudança do Canadá para os Estados Unidos e acaba namorando Ted e Barney (mais de uma vez cada um). Com medo de relacionamento ela somente tinha desejos sexuais sendo supridos, rejeitando completamente a possibilidade de ser parte de uma família. Ainda namora muitos outros e o mais importante (durante quase toda a série) é o trabalho, deixando os "homens da vida dela" pela profissão. Importante destacar que o pai dela a tratou como menino, já que ficou decepcionado com o fato de ter uma filha e por toda a série ela age como um homem, inclusive sendo o homem de alguns relacionamentos.

Lily, apesar de parecer a certinha do grupo desiste de casar (num primeiro momento) pra viver a vida, viajando pra França pra fazer um curso e (se não me engano) tem um relacionamento amoroso (sexual) com uma pessoa. Após voltar, casar e ter filho, ela demonstra interesse em relacionamentos homossexuais e poli afetivos.

Marshall, por fim, apesar de parecer o mais certinho, num certo episódio conta que sonha com a morte da esposa, tendo assim, nos sonhos, a possibilidade de ter relações com outras mulheres.

Apesar de os principais pontos citados aqui serem relacionados a sexo, há outros pontos como furtos praticados para resolver um problema e outro como prova de amor, supervalorização do amor ao próximo em detrimento do que é justo, entre outros. De qualquer forma é um seriado que ofende os princípios bíblicos, tendo por finalidade banalizar o sexo, apoiar as práticas do adultério, homossexualismo, fornicação, mitigação do valor do casamento entre outros mais.

A Bíblia, desde Gênesis, ensina o valor do casamento e que o sexo foi feito para ser usufruído apenas dentro dele (Gênesis 2:24, Êxodo 20.14, Romanos 1.26 e 1 Tessalonicenses 4:3).

Assistir a essa série (assim como muitas outras com esses e outros ensinamentos contrários a Bíblia) apenas nos faz absorver essa perspectiva deturpada. Se alguém ainda assim deseja vê-la, recomendo que não o façam como quem senta no sofá e desliga o cérebro apenas se divertindo com cenas engraçadas (porque elas existem), mas analisando-as, vendo todos os valores que são transmitidos para o telespectador.

Sim, eu sei que muitos dirão que se nos preocuparmos com tudo o que tentam ensinar nas séries / filmes / jogos, nos desligaremos de tudo, mas o cristão é chamado para saber filtrar as mensagens do mundo e não para tomar as formas e valores do mundo (Romanos 12.2 e I Tessalonicenses 5.21), bem como para abster-se de toda aparência do mal ( I Tessalonicenses 5.22).

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O Deus do Novo Testamento é o mesmo do Antigo?

Quantas vezes já ouvimos falar que o Deus no Novo Testamento não se parece com o que vemos no Antigo Testamento? A descrição popular é que o Deus no Antigo Testamento é um Deus emburrado, que odeia tudo e todos, que quer sangue a todo custo (quase um expectador do UFC). O problema dessa descrição é que quem pensa dessa maneira nunca leu toda a Bíblia ou, se leu, fez uma leitura rápida, superficial e errônea.

Ao longo de todo o Antigo Testamento podemos perceber, se fizermos uma leitura cuidadosa, que o Deus de amor que identificamos no Novo Testamento está presente no Antigo da mesma forma. A graça que imaginamos que "surgiu" a partir de Jesus pode ser vista desde o início de Gênesis. Caim, logo após matar seu irmão é confrontado por Deus (Gênesis 4.9), mas se percebermos a forma como Deus o trata e como ele fala com Deus fica muito clara a demonstração de graça para com ele. Se a tradicional caricatura de um Deus mau fosse verdadeira, na melhor das hipóteses, Caim teria virado cinzas imediatamente.

Em outros momentos vemos o povo de Israel reclamando de Deus, de ter sido retirado do Egito, de ter o maná para se alimentar (e faltar carne), se rebelando contra Deus e ainda assim, Ele não retirou sua mão. Por vezes o povo foi corrigido, mas jamais abandonado.

A ideia de deuses diferentes nos testamentos não é nova, mas uma antiga heresia: o Marcionismo. Marcião, um gnóstico do 2º século, acreditava que o "deus mau" do Antigo Testamento era um demiurgo (um "mini deus" da cultural grega) e que Jesus não era humano (senão teria que ser uma criatura do demiurgo - como toda a criação).

Importante destacar que no Antigo Testamento vemos bastante a ideia de um Deus justo, mas que também é amor (exceto em leituras descuidadas e superficiais). No Novo Testamento muitos apenas veem um Jesus amoroso que não julga, que não condena, mas deixam de perceber que Ele se manifestou como advogado na sua vinda e no final dos tempos será o juiz, aquele que exerce justiça (II Tm 4.1).

Sim, o Deus de ambos os testamentos é o mesmo. Sem qualquer sombra de variação (Tg 1.17). Em toda a Bíblia podemos ver um Deus que vai ao encontro do ser humano, mesmo ele sendo um pecador depravado incapaz de produzir boas ações sem o agir de Deus.